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ARTE POPULAR DO BRASIL

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Sil

Ex-cortadora de cana de açúcar, Maria Luciene da Silva Siqueira, a Sil, de Capela-AL, se tornou uma das mais expressivas e talentosas artistas populares deste país.

Sil nasceu no dia 14 de agosto de 1979 no município alagoano de Cajueiro, mas foi criada na zona rural do município vizinho, Capela. Filha de cortadores de cana, Sil trabalhou no corte da cana até os vinte anos de idade. A usina proprietária das terras onde Sil morava com o marido André faliu e eles foram obrigados a abandonar o lugar. Em busca de trabalho, mudaram-se para a sede do município. No início, Sil conta que ela e seu marido passaram por muitas dificuldades; André trabalhava “fazendo bico”, enquanto ela ficava em casa cuidando da casa e das filhas. A inquietação e o desejo por uma profissão e um trabalho levaram Sil a procurar o SEBRAE. Ali participou de várias oficinas: de bordado, de crochê e de tapeçaria. Um dia surgiu a oportunidade de participar de uma oficina com o barro; foi aí que ela encontrou pela primeira vez em sua vida o Mestre João das Alagoas. Na primeira visita que fez ao ateliê do mestre já foi para ficar; eu vi o trabalho dele e era tudo muito bonito… Ele deu muita oportunidade de eu começar e aprender…, conta Sil. Deste encontro nasceu uma artista de notável talento, uma das melhores aparições da arte popular do Brasil dos últimos tempos.

Com João das Alagoas já se vão mais de dez anos de uma relação de trabalho e de amizade. O mestre mantém um ateliê na cidade de Capela, onde trabalha de domingo a domingo junto com seus discípulos e agora colegas de trabalho. Além de Sil trabalham no ateliê a sua esposa, seu filho João Carlos, Nena, Leonílson, Gisé, dentre outros; são dez no total. O mestre conta que não ensinou a arte a nenhum deles, apenas deu oportunidade para que cada um expressasse a sua.

Sil revela que quando entrou no ateliê de João das Alagoas foi a primeira vez que viu um boneco de barro em sua vida. As figuras que tinha visto até então eram todas de gesso, ela lembra de uma pequena estatua do Padre Cícero que tinha em sua casa. Quando perguntada sobre sua primeira peça de barro, a primeira onde assinou seu nome, ela responde que foi um cavalinho. No começo eram cavalinhos, bois e pequenos bonecos. O nome Sil vem do tempo de criança, era assim como era chamada pelos seus pais; meus pais não conseguiam chamar o nome completo dos meninos, aí cada um tinha seu apelido… Aí eu comecei a assinar como Sil, eu pensei em assinar Luciene, mas não, Sil é um nome que eu trago de muito tempo, conta a artista.

Ao longo dos anos Sil imprimiu um estilo próprio à sua obra. Sua experiência de vida e os costumes do seu povo são transmitidos às peças com um realismo e um esmero que impressiona. Todas apresentam expressões fortes; são homens e mulheres do povo, festas de casamento matuto, namorados passeando a cavalo, brincadeiras de criança e vivências da vida na roça retratadas com suavidade e uma impressionante riqueza de detalhes. A jaqueira, árvore abundante na zona da mata alagoana, transformou-se num elemento onipresente da sua obra e, como ela mesma afirma, sua marca registrada.

Do casamento com André, Sil teve três filhas. Andressa de dez anos já segue os passos da mãe e, diga-se de passagem, com um talento aparente. Sil diz que de momento prefere que a filha se dedique aos estudos, o barro só nas horas livres, diz Sil. Mas ao que parece a arte de Capela e os ensinamentos do Mestre João das Alagoas terão certamente uma vida muito longa.

As obras de Sil já fizeram parte do acervo de várias exposições realizadas no Brasil e podem ser encontradas nas mais conceituadas galerias de arte de cidades como: São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Maceió, Rio de Janeiro e Porto Alegre.